Reuni meus netinhos em rodinha na sala, e sentado na poltrona, eu
comecei a contar essa historinha.
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O
CAVALEIRO VIAJANTE (PARTE 2)
OBS: Essa historinha sempre deu um
pouco de medo nos meus netinhos. Pois, nas partes em que a porteira, a coruja e
a alma aparecem, eu aumentava o tom de voz e meus netos se assustavam. Aconselho
a vocês leitores, contar essa historinha fazendo o mesmo que eu.
Após ter abrigado a
velhinha e seu netinho, em sua fazenda, os deixando protegidos e amparados, por
sua esposa e empregados, o cavaleiro viajante partiu em busca de outra aventura.
O cavaleiro, então, decidiu
comprar mais gados em outras regiões, as quais ele poderia consultar preços. Caminhou
o dia todo até chegar a uma cidadezinha bem pobre.
Ao chegar lá, já
cansado, ele procurou por uma pensão, para poder passar a noite. Perguntou a varias
pessoas se elas conheciam alguma pensão para ele poder se abrigar. Porém ele
perguntava, perguntava e ninguém lhe informava onde havia algum lugar barato e
simples por ali.
Quase desistindo de procurar, o
cavaleiro encontrou um senhorzinho, que estava sentado em um canto sujo, com um chapeuzinho
de palha meio rasgado na cabeça, que lhe informou o seguinte: “Seu moço, aqui é um vilarejo muito pobre e
vazio. Não temos quase nada para oferecer aos visitantes, deste lugar. As
pessoas que passam por aqui, assim como você, têm dificuldades em achar algum
local para se alojarem. Mas se o senhor for um homem corajoso e valente, posso
te dar um conselho”.
O velhinho se benzeu e ainda
comentou: “Bem ali no alto daquela
montanha nebulosa, há uma antiga fazenda e um casarão abandonado. Ao lado tem
umas ruínas de uma velha igrejinha que costumava ser frequentada pelos antigos
desse lugar. Atrás da igrejinha há um cemitério, que há anos não é utilizado.
Todos aqui fingem não saber que esse cemitério existe. Há lendas e mistérios
por detrás daquela montanha. Mas, se decidir ir até lá, o senhor vai avistar ao
longe a porteira da fazenda, que lhe contei. Tome muito cuidado seu moço! Quase
todos que aqui chegaram e na montanha resolveram se abrigar, não mais foram
vistos. Alguns moradores dizem que eles aparecem durante a noite, procurando o
caminho da vida de volta”.
O cavaleiro, diante disso, falou pra
seu informante: “Meu amigo, eu não tenho
medo de nada neste mundo. Vou até lá e me abrigarei no casarão. Eu estou cansado
da viagem e nada me assustará! Muito obrigado por sua ajuda”. E assim, se
foi o cavaleiro.
Subiu o morro e avistou a tal igrejinha.
Ao se aproximar, encontrou a tal porteira e esta foi se abrindo, abrindo,
abrindo sozinha, fazendo aquele barulho de porteira velha: “rriiii-eeeee-mmmmmmm”.
O cavaleiro, valente e corajoso, pensou:
“Nossa, que interessante essa porteira se
abrir sozinha! Deve ser a tal da porteira eletrônica!”. E ao se aproximar
mais, subitamente, uma enorme coruja voou rente ao seu rosto: “fu-fu-fu-fu-fu-fu-fu”. E nem assim, o
cavaleiro se assustou. Permaneceu cansado e tranquilo. Ele, então, entrou na
fazenda, avistou o tal casarão e caminhou até lá.
Ao chegar perto da entrada do casarão, a
maçaneta vagarosamente se virou e a porta, assim como a porteira, se abriu sozinha.
O cavaleiro desceu de seu cavalo, tranquilo, vendo a porta se abrir e assim, agindo
como se aquilo fosse normal, ele pegou sua mochila e entrou no casarão.
Ao entrar, o cavaleiro se deparou com
um enorme vão central com duas escadas laterais, enormes corrimãos dourados e
um longo corredor obscuro por entre as escadas. O local era iluminado apenas à
luz de velas, cheio de ratos e teias de aranhas. Como ele estava cansando, e sem
tempo para pensar em medo, corajosamente, o cavaleiro subiu as escadas e
caminhou até chegar a um pequeno quarto, no qual a porta se encontrava
semiaberta.
Sem pestanejar, ele entrou no quarto e avistou
uma grande cama imperial, com cortinas e lençóis amarelados, devido às poeiras
e o tempo. A janela do quarto estava aberta e com seus vidros quebrados. O
vento uivava em seus ouvidos. Ainda assim, o cavaleiro pegou o lençol, o
sacudiu, o estendeu e sentou. Já tonto de sono, tirou suas botas e se deitou na
cama caindo em um sono profundo.
Já era meia noite...
Neste momento,
minha netinha Carol, já tremendo de medo, quis mudar o horário da historinha:
“Vovô, não fala que era meia noite, por favor, fala que era meio dia”. Eu,
então, respondi a ela: “Não me interrompa, Carolzinha. Minha história tem de
se passar à meia noite, para ficar legal”. E, eu continuei a contar a
historinha.
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(CONTINUANDO)
Já era meia noite...
Minha netinha
novamente me interrompeu: “Fala que era meio dia vovô!”. E assim, eu falei:
“Para com isso minha neta, se não eu vou parar de contar essa historinha!”. E
ela me falou: “Tudo bem, não pare vovô, continue!”. Eu a respondi: “Então,
vamos mudar essa hora e prosseguir a historinha. Vou dizer outra coisa agora”.
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(CONTINUANDO)
Lá pras tantas horas, o cavalheiro
acordou com um barulho estranho e ouviu um barulho de botinas caminhando pelo
corredor: “toc-toc-toc-toc...”. Ele
se levantou e foi em direção a porta do quarto. Ele não avistou nada, mas
sentiu a beirada do colchão abaixar, como se uma pessoa estivesse sentando ali.
Dessa forma, com toda sua coragem, o
cavaleiro manteve a calma e não se assustou, diante daquele acontecimento. Ele
indagou: “Quem está ai?”.
Uma voz, meio rouca, o respondeu: “O senhor é um homem de coragem, porque
todos que aqui vieram, morreram de medo e, assim, foram embora, sem, ao menos, me ouvir.
Por isso, te revelarei uma coisa. Em vida, eu construí esta igrejinha, para a qual
arrecadei muito dinheiro. A maior parte deste dinheiro, eu guardei num caixote,
pra caso eu precisasse mais tarde. Já adoecido eu o enterrei, no cemitério ali
atrás da igreja, pensando que quando eu morresse, o traria comigo para pagar
meus pecados. Mas acontece que para onde eu vim, fiquei vagando pelo espaço e
uma voz celestial falou pra eu me desfazer desde dinheiro, que neste lugar nada
se compra. Disse-me para praticar alguma boa ação, que assim, eu conseguira
entrar no reino do pai misericordioso. Entretanto está difícil de cumprir esta
tarefa, devido ao que te contei. Ainda bem que você veio até aqui. Amanhã bem
cedo, você deve ir atrás da igrejinha e cavar uns dois metros. Depois disso,
você encontrará o caixote, cheio de moedas. Leve-o consigo e distribua para as
pessoas pobres. Faça isso!”.
Depois disso, o colchão voltou ao
normal e a alma desapareceu. No dia seguinte, o cavaleiro acordou bem cedo e lá
se foi à procura do caixote.
Ao chegar ao local indicado pela
alma, ele encontrou uma picareta e começou a cavar, até que bateu numa caixa e
constatou ser o caixote do falecido padre. Ele, então, o retirou pra cima e
abriu sua tampa. Lá estavam as moedas de ouro. Ele as pegou, as levou pra
dentro do casarão e guardou todas as moedas em sua mochila. Ele saiu
imediatamente do casarão e, então, montou em seu cavalo e cavalgou para cumprir
sua missão.
Pelos caminhos de sua volta, cada
casebre pobre que o cavaleiro avistava, ele parava e distribuía um punhado de
moedas de ouro para os humildes habitantes. E assim, ele foi chegando à sua
fazenda, com sua mochila vazia. Ao aproximar-se de sua porteira, viu-a abrindo
sozinha e ouviu uma voz celestial, suave, falar: “Muito obrigado, cavaleiro! Eu estou agora no céu, com nosso senhor e
querido Deus. Ele está te abençoando!”. Agradecido e
Contente, o cavaleiro voltou ao seio de sua família.
AUTORIA: Mario Garcia Aguiar
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