quarta-feira, 17 de outubro de 2012

o cavaleiro viajante (parte 2)




Reuni meus netinhos em rodinha na sala, e sentado na poltrona, eu comecei a contar essa historinha.



















O CAVALEIRO VIAJANTE (PARTE 2)


OBS: Essa historinha sempre deu um pouco de medo nos meus netinhos. Pois, nas partes em que a porteira, a coruja e a alma aparecem, eu aumentava o tom de voz e meus netos se assustavam. Aconselho a vocês leitores, contar essa historinha fazendo o mesmo que eu.


Após ter abrigado a velhinha e seu netinho, em sua fazenda, os deixando protegidos e amparados, por sua esposa e empregados, o cavaleiro viajante partiu em busca de outra aventura.
O cavaleiro, então, decidiu comprar mais gados em outras regiões, as quais ele poderia consultar preços. Caminhou o dia todo até chegar a uma cidadezinha bem pobre.
Ao chegar lá, já cansado, ele procurou por uma pensão, para poder passar a noite. Perguntou a varias pessoas se elas conheciam alguma pensão para ele poder se abrigar. Porém ele perguntava, perguntava e ninguém lhe informava onde havia algum lugar barato e simples por ali.
Quase desistindo de procurar, o cavaleiro encontrou um senhorzinho, que estava sentado em um canto sujo, com um chapeuzinho de palha meio rasgado na cabeça, que lhe informou o seguinte: “Seu moço, aqui é um vilarejo muito pobre e vazio. Não temos quase nada para oferecer aos visitantes, deste lugar. As pessoas que passam por aqui, assim como você, têm dificuldades em achar algum local para se alojarem. Mas se o senhor for um homem corajoso e valente, posso te dar um conselho”.
O velhinho se benzeu e ainda comentou: “Bem ali no alto daquela montanha nebulosa, há uma antiga fazenda e um casarão abandonado. Ao lado tem umas ruínas de uma velha igrejinha que costumava ser frequentada pelos antigos desse lugar. Atrás da igrejinha há um cemitério, que há anos não é utilizado. Todos aqui fingem não saber que esse cemitério existe. Há lendas e mistérios por detrás daquela montanha. Mas, se decidir ir até lá, o senhor vai avistar ao longe a porteira da fazenda, que lhe contei. Tome muito cuidado seu moço! Quase todos que aqui chegaram e na montanha resolveram se abrigar, não mais foram vistos. Alguns moradores dizem que eles aparecem durante a noite, procurando o caminho da vida de volta”.
O cavaleiro, diante disso, falou pra seu informante: “Meu amigo, eu não tenho medo de nada neste mundo. Vou até lá e me abrigarei no casarão. Eu estou cansado da viagem e nada me assustará! Muito obrigado por sua ajuda”. E assim, se foi o cavaleiro.
Subiu o morro e avistou a tal igrejinha. Ao se aproximar, encontrou a tal porteira e esta foi se abrindo, abrindo, abrindo sozinha, fazendo aquele barulho de porteira velha: “rriiii-eeeee-mmmmmmm”.
O cavaleiro, valente e corajoso, pensou: “Nossa, que interessante essa porteira se abrir sozinha! Deve ser a tal da porteira eletrônica!”. E ao se aproximar mais, subitamente, uma enorme coruja voou rente ao seu rosto: “fu-fu-fu-fu-fu-fu-fu”. E nem assim, o cavaleiro se assustou. Permaneceu cansado e tranquilo. Ele, então, entrou na fazenda, avistou o tal casarão e caminhou até lá.
 Ao chegar perto da entrada do casarão, a maçaneta vagarosamente se virou e a porta, assim como a porteira, se abriu sozinha. O cavaleiro desceu de seu cavalo, tranquilo, vendo a porta se abrir e assim, agindo como se aquilo fosse normal, ele pegou sua mochila e entrou no casarão.
Ao entrar, o cavaleiro se deparou com um enorme vão central com duas escadas laterais, enormes corrimãos dourados e um longo corredor obscuro por entre as escadas. O local era iluminado apenas à luz de velas, cheio de ratos e teias de aranhas. Como ele estava cansando, e sem tempo para pensar em medo, corajosamente, o cavaleiro subiu as escadas e caminhou até chegar a um pequeno quarto, no qual a porta se encontrava semiaberta.
 Sem pestanejar, ele entrou no quarto e avistou uma grande cama imperial, com cortinas e lençóis amarelados, devido às poeiras e o tempo. A janela do quarto estava aberta e com seus vidros quebrados. O vento uivava em seus ouvidos. Ainda assim, o cavaleiro pegou o lençol, o sacudiu, o estendeu e sentou. Já tonto de sono, tirou suas botas e se deitou na cama caindo em um sono profundo.
Já era meia noite...

Neste momento, minha netinha Carol, já tremendo de medo, quis mudar o horário da historinha: “Vovô, não fala que era meia noite, por favor, fala que era meio dia”. Eu, então, respondi a ela: “Não me interrompa, Carolzinha. Minha história tem de se passar à meia noite, para ficar legal”. E, eu continuei a contar a historinha.

(CONTINUANDO)
Já era meia noite...

Minha netinha novamente me interrompeu: “Fala que era meio dia vovô!”. E assim, eu falei: “Para com isso minha neta, se não eu vou parar de contar essa historinha!”. E ela me falou: “Tudo bem, não pare vovô, continue!”. Eu a respondi: “Então, vamos mudar essa hora e prosseguir a historinha. Vou dizer outra coisa agora”.

(CONTINUANDO)
Lá pras tantas horas, o cavalheiro acordou com um barulho estranho e ouviu um barulho de botinas caminhando pelo corredor: “toc-toc-toc-toc...”. Ele se levantou e foi em direção a porta do quarto. Ele não avistou nada, mas sentiu a beirada do colchão abaixar, como se uma pessoa estivesse sentando ali.
Dessa forma, com toda sua coragem, o cavaleiro manteve a calma e não se assustou, diante daquele acontecimento. Ele indagou: “Quem está ai?”.
Uma voz, meio rouca, o respondeu: “O senhor é um homem de coragem, porque todos que aqui vieram, morreram de medo e, assim, foram embora, sem, ao menos, me ouvir. Por isso, te revelarei uma coisa. Em vida, eu construí esta igrejinha, para a qual arrecadei muito dinheiro. A maior parte deste dinheiro, eu guardei num caixote, pra caso eu precisasse mais tarde. Já adoecido eu o enterrei, no cemitério ali atrás da igreja, pensando que quando eu morresse, o traria comigo para pagar meus pecados. Mas acontece que para onde eu vim, fiquei vagando pelo espaço e uma voz celestial falou pra eu me desfazer desde dinheiro, que neste lugar nada se compra. Disse-me para praticar alguma boa ação, que assim, eu conseguira entrar no reino do pai misericordioso. Entretanto está difícil de cumprir esta tarefa, devido ao que te contei. Ainda bem que você veio até aqui. Amanhã bem cedo, você deve ir atrás da igrejinha e cavar uns dois metros. Depois disso, você encontrará o caixote, cheio de moedas. Leve-o consigo e distribua para as pessoas pobres. Faça isso!”.
Depois disso, o colchão voltou ao normal e a alma desapareceu. No dia seguinte, o cavaleiro acordou bem cedo e lá se foi à procura do caixote.
Ao chegar ao local indicado pela alma, ele encontrou uma picareta e começou a cavar, até que bateu numa caixa e constatou ser o caixote do falecido padre. Ele, então, o retirou pra cima e abriu sua tampa. Lá estavam as moedas de ouro. Ele as pegou, as levou pra dentro do casarão e guardou todas as moedas em sua mochila. Ele saiu imediatamente do casarão e, então, montou em seu cavalo e cavalgou para cumprir sua missão.
Pelos caminhos de sua volta, cada casebre pobre que o cavaleiro avistava, ele parava e distribuía um punhado de moedas de ouro para os humildes habitantes. E assim, ele foi chegando à sua fazenda, com sua mochila vazia. Ao aproximar-se de sua porteira, viu-a abrindo sozinha e ouviu uma voz celestial, suave, falar: “Muito obrigado, cavaleiro! Eu estou agora no céu, com nosso senhor e querido Deus. Ele está te abençoando!”. Agradecido e Contente, o cavaleiro voltou ao seio de sua família.

AUTORIA: Mario Garcia Aguiar

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