terça-feira, 9 de outubro de 2012

o cavaleiro viajante

O CAVALEIRO VIAJANTE


Havia um cavaleiro, que viajava pelos caminhos da vida. Em uma de suas caminhadas, cortando atalhos, entrou por aventura na mata fechada.
Ao longe, ele avistou uma senhora, que estava sentada em um tronco de árvore. Aproximou-se da velhinha e a viu chorando. Assustado com aquela cena, o rapaz dirigiu-se a ela e a perguntou: “O que está havendo, minha senhora?”.
Ela olhou para cima e falou: “Olha, seu moço, não te conto nada. Eu estou à procura de meu netinho, que desapareceu de casa, levado por uma gorila. O pai dele era caçador e trazia as caças para nossa casa, para nos alimentarmos. Um dia, em uma dessas idas, ele retornou para casa sem ter trazido nada”.
A senhora, então, prosseguiu: “Com a cabeça baixa e triste o pai dele me disse: ‘Minha sogra, hoje aconteceu uma tragédia. Eu avistei uma gorila no alto de uma árvore e apontei a espingarda para cima. Atirei nela e ela caiu lá de cima. Ao aproximar-me dela, a vi segurando um filhote, o qual parecia estar morto. Ela, então, pegou sua cria e saiu em disparada para a mata fechada, desesperada’”.
Ela continuou contando para o cavaleiro: “Após me contar esse episódio, muito triste, meu genro pegou seu filho no colo e saiu para o terreiro da nossa casa. De repente ele ouviu um rugido bem forte, próximo de onde ele estava. Foi, então, que apareceu a gorila com o seu filhote morto. Ela jogou o filhote ao chão e partiu pra cima dele, o ferindo com suas garras. Assim sendo, meu neto caiu dos braços dele. E, em uma luta desesperadora, meu genro foi morto. A gorila pegou meu netinho e adentrou-se na mata,  o carregando. Já faz uma semana que estou à procura dele e não o encontro. Infelizmente, seu moço, agora eu estou sozinha. Eu vivia apenas com meu genro e meu único netinho, visto que minha filha também já se foi. Por favor, me ajude seu moço. Pelo amor de Deus, tente encontrar meu neto!”.
Comovido, o cavaleiro respondeu: “A senhora já pode ir pra sua casa, que aqui é muito perigoso. Deixe comigo! Vou até ao fim do mundo, mas trarei seu netinho de volta! Ao encontrar seu neto, o levarei de volta para os seus braços!”.
O cavaleiro, então, abandonou o seu caminho e se aventurou na mata galopando em seu pomposo cavalo. Galopou, galopou, por muito tempo, abrindo passagem na intensa mata fechada. A caminhada era árdua e já com fome e sede, o cavaleiro bebia o resto de água que carregava consigo e comia algumas frutas que encontrava por ali. Ao acabar o pouco de água que lhe restava, foi matar sua sede em pequenos manguezais, por onde passava. Com todas as dificuldades que encontrava pelo caminho, mesmo assim, o rapaz não desistia da promessa feita à senhora.
No entanto, ao atravessar um perigoso rio, montado em seu cavalo, distraidamente, o pobre cavalinho tropeçou em um pedaço de madeira e caiu no rio.  O cavaleiro, então, bateu com a cabeça em uma pedra e acabou por desmaiar. Acabou sendo levado pela corredeira e se distanciando muito.
 Passado algumas horas, o rapaz acordou. Ainda meio atordoado, ele olhou para os lados e avistou uma arvore, na qual estava dormindo uma gorila, que segurava alguma coisa.
 O cavaleiro se apoiou em uns galhos para subir às margens do rio. Meio fraco ainda, o jovem caminhou para mais perto, para ver o que a gorila estava segurando. Tonto, viu o que era e exclamou: “Será miragem ou realidade? Parece ser uma criança!”. Compenetrado naquilo, constatou: “É mesmo uma criança! Deve ser o netinho daquela senhora!”.
 Cauteloso, o jovem pensou: “Não vou assustá-la. Eu tenho que ter calma!”. Então, ele se escondeu no meio de umas folhagens e ali, ficou pensando no que fazer. Assim, pensou: “Esta gorila tem que sair dali, para se alimentar alguma hora”.
 Ele ficou, até ao entardecer, à espera disso. Pois bem, exatamente como havia pensado o cavaleiro, a gorila desceu da árvore. Ela caminhou com a criança em seus braços até um coqueiral. Ela juntou algumas folhas secas no chão, fez um ninho, colocou a criança deitada e foi à procura de cocos, para se alimentarem. A gorila, então, subiu em um coqueiro bem alto.
 O cavalheiro teve uma ideia: “É agora!”. Ele correu até lá, pegou a criança e voltou correndo para a mata fechada. Subitamente, com a criança em seus braços, avistou o seu cavalo, subiu nele e saiu galopando. Esperto, olhou para traz e viu que a gorila os seguia. Ela estava desesperada para pegar a criança.
Nisto, ele avistou o tal rio e pensou: “Se eu conseguir atravessar, esta gorila não vai conseguir nos pegar!”. Dessa forma, ele entrou no rio, montado em seu cavalo e com a criança em seu colo. A correnteza os puxava para baixo. Mas com muita bravura, o cavaleiro se concentrava em levar a criança sã e salva, para o seio da pobre velhinha.
 Bastante valente, ele atravessou as margens do rio, até o outro lado. Ofegante, o rapaz olhou para trás e lá estava a gorila urrando de raiva e coçando a cabeça, posto que, assim, ela não poderia chegar até eles. Ele galopou, galopou e encontrou o caminho de volta, o qual os levaria à casa da senhora.
 De longe, a pobre velhinha avistou o cavaleiro chegando, com o seu netinho nos braços. Ela correu em sua direção. Ao chegar perto deles, a senhora agarrou a criança em seus braços, chorando. Emocionada ela gritou para o cavaleiro: “O senhor foi enviado por Deus! Não sei como lhe agradecer!”. O cavalheiro respondeu: “A senhora não pode morar mais aqui, porque a gorila pode aparecer novamente! Junte suas coisas e vamos embora!”.
 O cavaleiro, então, os levou consigo, para uma grande fazenda, a qual ele possuía, bem próxima à uma cidade. Diante disso, passou a cuidar da pobre senhora e do seu netinho, com muito amor.


 P.S.: Meu pai contava, que um caçador, em uma de suas caçadas, avistou um macaco na árvore. Quando ele foi atirar, apontando a espingarda, o macaco tirou um macaquinho de baixo dele. Devido à isso, o caçador não teve coragem de atirar.
Esse foi um caso verídico, o qual me inspirou a escrever esta história.


AUTORIA: Mario Garcia Aguiar


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