"SEU MOÇO ME DÁ MINHA COCA!"
Alegre e saltitante ia eu,
correndo pela estrada férrea, para a casa do meu padrinho. Ao chegar lá, eu sempre
pedia: “Bença, padim!”. E ele, com aquele sorriso bondoso me respondia:
“Deus te abençoe, meu filho”.
Meu padrinho sempre guardava
presentes para mim, porém, dessa vez ao chegar, ele me disse: “Meu filho, hoje não tenho presentes para
lhe dar. Os tempos estão difíceis. Na geladeira, só tenho uma garrafa de Coca Cola.
Quer levá-la?”. Eu, subitamente, respondi: “Claro, meu padim! Eu quero sim. Adoro Coca!”. Diante disso,
peguei a garrafa, bem rápido, pois estava com pressa e me despedi dele. Meu padrinho
me abençoou e assim, voltei muito contente para minha casa.
No caminho de volta, um velho
andarilho me cercou, próximo à linha do trem, de supetão arrancou a Coca do meu
braço e correu. Ainda assustado, me sentei na linha férrea e abatido gritei: “Seu moço, me dá a minha Coca! A Coca que
meu padim me deu!”. Por várias vezes repeti a mesma frase: “Seu moço, me dá minha Coca! A Coca que padim me deu!”.
De repente, percebi que o
andarilho caminhava ao meu encontro. O sol ofuscava minha visão, mas o observei
chegar. Ao se aproximar, o pobre andarilho exclamou: “Menino, tome a sua Coca! Eu estava com sede, mas como o vejo sempre
passar por aqui, irei lhe devolver”. Pensativo, sugeri que o pobre velho se
sentasse ao meu lado e assim, compartilhamos a garrafa e fartamos nossa sede. Trocamos
algumas palavras, o velho me contou da vida difícil e amargurada que vivia.
Ele morava em uma casinha humilde,
abandonada bem próxima dali, a qual havia invadido, por passar muito frio e
solidão na rua. Contou que guardava garrafas vazias em sua casinha e as usava
para imitar o apito do trem. Disse ainda, que quando o trem passava por ali,
alguns maquinistas jogavam alimentos para ele.
Os maquinistas o adoravam, visto que
certa vez, houve um descarrilamento desastroso por ali, no qual a caldeira do
trem tombou e entornou água fervente na estrada, fazendo com o que o trem emperrasse
e não funcionasse mais. Desesperados, os maquinistas apitaram socorro e o pobre
andarilho tentou ajudá-los. O andarilho, não hesitou, subiu correndo para o monte e imitou com sua garrafa, o apito de socorro do trem, bem alto, avisando ao outro trem, que se aproximava, do ocorrido. Ouviu-se,
então, o forte baralho do freio de emergência do trem que se aproximava. Quando
o trem finalmente parou, todos os passageiros desceram e foram agradecer ao
velhinho. O velho então se orgulhou por ter salvado a vida de tantas pessoas e
pela primeira vez, se sentiu feliz por estar vivo.
Bebemos a garrafa toda e como
estava ficando tarde e meus pais ficariam preocupados, me levantei para ir
embora. O andarilho, então, me agradeceu pela Coca e pela conversa e me disse
que em uma próxima vez, me contaria outras histórias emocionantes com esta e a de como ele havia chagado até ali. Ainda, o pobre andarilho me fez um último
pedido: “Menino, você poderia me doar
esta garrafa vazia de Coca Cola? É para a minha coleção!”. Eu, então, o respondi: “Claro! Fique com ela. Mas me mate uma
curiosidade? Qual é o seu nome?”. E já se afastando, o velho sussurrou: “Meu nome é Tibúrcio.
Tibúrcio. Tibúrcio".
Caminhei em direção à minha casa e
ao longe se ouvia o velho andarilho cantando: “Seu moço, me dá minha Coca! A Coca que padim me deu!”. “Seu moço, me dá minha Coca! A Coca que padim me deu!”.
P.S.: Essa história continua. São muitas, as insistências de meus netinhos!
AUTORIA: Mario Garcia Aguiar
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