segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"seu moço me da minha coca " (parte 2)


"SEU MOÇO ME DÁ MINHA COCA" (PARTE 2)


OBS: Devido às insistências de meus netos, continuarei contando essa história!

Voltando à casa de meu padrinho, eufórico para encontrar Tibúrcio, bastante curioso para ouvir suas outras histórias, as quais prometeu me contar, da próxima vez em que eu passasse por lá. E, assim, eu fui caminhando.  Ao me aproximar de sua humilde casinha, ele me avistou de longe e começou a cantar: “Seu moço me dá minha Coca! A Coca que padim me deu”.
Continuou cantando, até que cheguei. Ele veio de braços abertos cumprimentar-me e falou-me: “Olá, meu amiguinho, você por aqui? Venha até a minha humilde casinha e vamos bater um papinho?”. Recebeu-me sorridente, logo foi pegando o seu banquinho e falando: “Senta ai, que hoje vou te contar a história de onde vim”.
Tibúrcio prosseguiu contando: “Eu trabalhava como maquinista de trens. Transportava cargas e passageiros. Mas aconteceu, porém, que em uma viagem, transportando passageiros, não sei se foi do seu tempo, você já ouviu falar sobre o desastre de Tanguá e.r.?”. Então, o respondi: “Lembro sim, meu pai me contou. Ele estava nesta viagem e sobreviveu. Contou que foi horrível e muitos morreram”.
Tibúrcio abaixou a cabeça e com lágrimas nos olhos, falou: “Era eu quem estava de maquinista. Vou lhe contar”. Ele continuou: “No dia, estava chovendo muito, parecia um dilúvio. Ribanceiras caíram, até que em um trecho, ao atravessar uma ponte, uma ribanceira bem grande, desmoronou, fazendo com que vários vagões de passageiros caíssem no rio. Devido as fortes chuvas, que matou muita gente, depois ainda deste acontecimento, eu desesperado, abandonei tudo e sai caminhando nesta linha sem destino. Andei um por um bom tempo sozinho por ai, vagando no frio e na escuridão. Caminhando parei aqui, achei esta casa e morando aqui, isolado de tudo, procurei esquecer. Porém, eu tinha pesadelos horríveis. Vinha em meus pesadelos, aquele desastre. Eu só melhorei, quando lhe contei, da outra vez, sobre o salvamento das vidas, do desastre que evitei, com a garrafinha e com o apito de socorro. Com este acontecimento, senti ter resgatado todas as vítimas do desastre, acontecido comigo”.
Tibúrcio ao acabar de me contar sobre sua difícil jornada, falou: “Vá meu amigo, não perca tempo! A vida é muito curta! Às vezes nos surpreende! Vá encontrar com o seu padrinho e curta. Mas volte sempre. Da próxima vez, vou lhe contar outra história mais alegre”. 
Meu amigo, então, me abraçou e, ainda, vi seus olhos molhados, me dizendo: “Até breve!”. E seguiu cantando: “Seu moço me dá minha Coca! A Coca que padim me deu”. “Seu moço me dá minha Coca! A Coca que padim me deu”. Até sumir novamente.

AUTORIA: Mario Garcia Aguiar

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