segunda-feira, 22 de outubro de 2012

o pescador que encantou a sereia

O PESCADOR QUE ENCANTOU A SEREIA



OBS: A lenda conta que a sereia encantava os marinheiros com seus cantos, mas desta vez eu vou contar o contrário. Nessa historinha o pescador é quem encanta a sereia.

Certo pescador saia todos os dias para pescar. Ele partia ao amanhecer, sozinho em seu barquinho, pois assim curtia o mar por mais tempo. Além disso, ele gostava muito de cantar, sua voz era afinada e vibrante, todos a elogiavam, suas canções era suaves, como o cantar das sereias nas lendas.
Num dia desses, com o sol já raiando e a brisa fininha batendo na janela da casa, o pescador se levantou, tomou um café quentinho, pegou sua vara de pescar, seu molinete, as iscas e partiu para a praia. 
Lá chegando, puxou a âncora de seu barco, o empurrou até a beirada d’água e começou a remar. Ele levantou a vela do barco e ficou esperando uma oportunidade para pescar. Jogou a âncora do barco ao mar, içou seus anzóis com as devidas iscas e começou a cantar.
Cantarolou por várias horas, até que, de repente, um lindo rabo de peixe esverdeado, se projetou perto de seu barco. Bastante eufórico com a situação, ele parou de cantar e o peixe sumiu. Já recuperado do susto, continuou sua pescaria e começou a cantar novamente. Mais uma vez, o rabo de peixe apareceu brilhando ao seu lado e com aquele acontecimento, ele parou de cantar de vez. Diante disso, o peixe também desapareceu.
Estava entardecendo e, então, o pescador decidiu voltar para sua casa. Ele recolheu os peixes que conseguiu pescar, os armazenou em caixas com gelos e partiu de volta.
 Ao chegar ao vilarejo, foi até às peixarias, vendeu os peixes e recebeu seu dinheiro, bastante satisfeito. Depois disso, o pescador foi para o boteco do Mané, se encontrar com seus amigos pescadores.
Lá chegando, ele encontrou sua turma que, estava toda reunida, após terem pescado, assim como ele.  Eles gritaram: “Venha pra cá, cantor! Que nós estamos esperando você cantar pra nós! Tome logo esta gelada, que ajuda a lavar a garganta!”. E assim, o pescador começou a cantarolar.
Ao ouvirem o pescador cantando, seus amigos pararam de conversar e ficaram hipnotizados com aquele maravilhoso som. O pescador cantou, cantou, até que parou um pouco para descansar. Eles, então, comentaram: “Nossa camarada, você tem uma voz magnífica! Deveria ser cantor profissional! Mas, agora vamos contar nossos casos!”.
Cada pescador dali tinha um apelido. Quase todos com a alcunha de algum peixe. Tinha o vulgo BAIACU  que possuía uma enorme barriga. O GURUÇÁ  que era baixinho, achatado com aparência de siri. O NAMORADO, que era muito mulherengo. O PERUÁ, que era pobre e ficou rico. E, como estes, havia vários outros apelidos. Um deles gritou: "GURUÇÁ, conte pra gente um de seus casos engraçados!”.  
E o GURUÇÁ respondeu: “Está bem, eu contarei para vocês, mas estou com receio de contar e vocês não acreditarem em mim, porém vamos lá! Em uma de minhas pescarias, peguei um Dourado, muito bonito por sinal e decidi levá-lo pra minha casa. Assim, eu poderia fazer uma deliciosa moqueca de dourado. Eu, então, fui pra minha casa. E já na cozinha, eu comecei a preparar o peixe. Tirei suas escamas e quando abri sua barriga, eu encontrei uma bela ova amarelinha. Com pena, peguei as ovas em minhas mãos e fiquei sem saber o que fazer com elas”.
Ele continuou: “Olhei pela janela e avistei em meu terreiro uma pata, toda arrepiada. Matutei, matutei e tive uma ideia. Eu peguei uma bacia com água, peguei as ovas e as coloquei na água. Coloquei a pata choca na água e botei uma toalha em cima deles, deixando só a cabeça da pata pra fora, pra ela se alimentar. Ao passar um mês, os tratando bem todos os dias, resolvi levantar a toalha pra ver o resultado. Vocês não vão acreditar! Dentro da água havia uma porção de peixinhos nadando!”.
 A turma caiu na gargalhada: “kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk”. E o GURUÇÁ meio sem graça, comentou: “Por isso que eu não queria contar, sabia que vocês não acreditariam em mim! Mas vamos fazer algo melhor agora. Vamos comer esta jaca que BAIACU trouxe pra gente!”. A turma, então, comeu a jaca toda.
Depois disso, BAIACU falou: “Vou lhes contar sobre esta jaca, que vocês acabaram de comer. Eu tinha um cachorro muito bravo, no quintal de minha casa. O bicho era tão bravo, mas tão bravo que ninguém entrava lá. Mas o pior aconteceu. o danado ficou tão doido, que nem eu conseguia pegá-lo. Então, eu tive uma ideia. Fui chamar meu vizinho, que é boiadeiro e bom de laço, para pegar o cachorro doido. Assim procedi. Fui até ao meu vizinho e ele, com a maior boa vontade, aceitou meu pedido”.
“Meu vizinho, então, laçou o meu cão e, assim, o amarramos em um tronco de abacateiro. Mas o bicho estava tão feroz, que de tanta raiva mordeu o tronco do abacateiro. Vocês conseguem imaginar uma dentada dessas? De tão raivoso, os dentes do cão ficaram agarrados ao tronco do abacateiro, e de fúria meu cão morreu. Já faz um ano que isso aconteceu. Agora vocês não vão acreditar mesmo. O abacateiro também ficou doido! Ao invés de abacate, o abacateiro passou a produzir jacas. E esta que eu trouxe para vocês é uma delas!”.
 Após ouvir o caso de BAIACU a turma caiu na gargalhada e um deles exclamou: “Acho que essa jaca vai fazer a gente ficar doido também! kkkkkkkkk”. BAIACU, então, virou para o pescador cantor e falou: ”Você está tão quieto, cantor. Você está passando mal por comer a jaca doida? Conte-nos alguma coisa!”. O cantor o respondeu: “Estou quieto porque eu estou preocupado com o que aconteceu hoje comigo”. 
E ai, falaram: “Não fique assim, cara. Fala pra gente o que esta te preocupando”Então, o cantor começou a contar: “Hoje cedo, eu fui pescar e lá pras tantas, eu comecei a cantar. E ai, apareceu um lindo rabo de um peixe do lado de meu barco. Cada vez que eu parava de cantar, o peixe sumia. E quando eu voltava a cantar o rabo aparecia de novo. Até que parei de vez de cantar e o peixe também sumiu”.
 Ao contar esta passagem acontecida, um senhorzinho velho gritou lá de trás: “Seu moço, seu moço, isso ta mais pra sereia do que peixe. Seu canto a seduziu. Ela deve ter se apaixonado por você. As sereias adoram seduzir os pescadores com seus cantos hipnotizantes. Mas desta vez o senhor que a hipnotizou com seu canto. Provavelmente ela deve estar querendo te pegar. Assim como fazem as mulheres, quando querem nos atrair. Elas mostram colocam suas penas bonitas de fora e se arrumam todas. Já a sereia, por não ter pernas, mostra sua cauda para o pescador”.
O cantor falou: “Vocês estão ficando doidos mesmo. Depois dessa eu vou pra casa”. E descontraído, ele saiu de lá rindo.

P.S: Além de escritor, sou também pescador. E na próxima historia, vou contar um relato que aconteceu comigo. Dizem que histórias de pescador são mentiras. Mas garanto que a minha é verídica.

AUTORIA: Mario Garcia Aguiar

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