O PESCADOR QUE ENCANTOU A SEREIA
OBS: A lenda conta que
a sereia encantava os marinheiros com seus cantos, mas desta vez eu vou contar
o contrário. Nessa historinha o pescador é quem encanta a sereia.
Certo pescador saia
todos os dias para pescar. Ele partia ao amanhecer, sozinho em seu barquinho,
pois assim curtia o mar por mais tempo. Além disso, ele gostava muito de
cantar, sua voz era afinada e vibrante, todos a elogiavam, suas canções era
suaves, como o cantar das sereias nas lendas.
Num dia desses, com o
sol já raiando e a brisa fininha batendo na janela da casa, o pescador se
levantou, tomou um café quentinho, pegou sua vara de pescar, seu molinete, as
iscas e partiu para a praia.
Lá chegando, puxou a
âncora de seu barco, o empurrou até a beirada d’água e começou a remar. Ele
levantou a vela do barco e ficou esperando uma
oportunidade para pescar. Jogou a âncora do barco ao mar, içou seus anzóis com
as devidas iscas e começou a cantar.
Cantarolou por várias horas, até que,
de repente, um lindo rabo de peixe esverdeado, se projetou perto de seu barco.
Bastante eufórico com a situação, ele parou de cantar e o peixe sumiu. Já
recuperado do susto, continuou sua pescaria e começou a cantar novamente. Mais
uma vez, o rabo de peixe apareceu brilhando ao seu lado e com aquele
acontecimento, ele parou de cantar de vez. Diante disso, o peixe também
desapareceu.
Estava entardecendo e, então, o
pescador decidiu voltar para sua casa. Ele recolheu os peixes que conseguiu
pescar, os armazenou em caixas com gelos e partiu de volta.
Ao chegar ao vilarejo, foi até às
peixarias, vendeu os peixes e recebeu seu dinheiro, bastante satisfeito. Depois
disso, o pescador foi para o boteco do Mané, se encontrar com seus amigos
pescadores.
Lá chegando, ele encontrou sua turma
que, estava toda reunida, após terem pescado, assim como ele. Eles
gritaram: “Venha pra cá, cantor! Que nós estamos esperando você cantar pra nós!
Tome logo esta gelada, que ajuda a lavar a garganta!”. E assim, o pescador
começou a cantarolar.
Ao ouvirem o pescador cantando, seus
amigos pararam de conversar e ficaram hipnotizados com aquele maravilhoso
som. O pescador cantou, cantou, até que parou um pouco para descansar. Eles,
então, comentaram: “Nossa camarada, você tem uma voz magnífica! Deveria
ser cantor profissional! Mas, agora vamos contar nossos casos!”.
Cada pescador dali tinha um apelido.
Quase todos com a alcunha de algum peixe. Tinha o vulgo BAIACU que
possuía uma enorme barriga. O GURUÇÁ que era baixinho, achatado com
aparência de siri. O NAMORADO, que era muito mulherengo. O PERUÁ, que era pobre
e ficou rico. E, como estes, havia vários outros apelidos. Um deles gritou: "GURUÇÁ,
conte pra gente um de seus casos engraçados!”.
E o GURUÇÁ respondeu: “Está
bem, eu contarei para vocês, mas estou com receio de contar e vocês não
acreditarem em mim, porém vamos lá! Em uma de minhas pescarias,
peguei um Dourado, muito bonito por sinal e decidi levá-lo pra minha casa.
Assim, eu poderia fazer uma deliciosa moqueca de dourado. Eu, então, fui pra
minha casa. E já na cozinha, eu comecei a preparar o peixe. Tirei suas escamas
e quando abri sua barriga, eu encontrei uma bela ova amarelinha. Com pena,
peguei as ovas em minhas mãos e fiquei sem saber o que fazer com elas”.
Ele continuou: “Olhei pela
janela e avistei em meu terreiro uma pata, toda arrepiada. Matutei, matutei e
tive uma ideia. Eu peguei uma bacia com água, peguei as ovas e as coloquei na
água. Coloquei a pata choca na água e botei uma toalha em cima deles, deixando
só a cabeça da pata pra fora, pra ela se alimentar. Ao passar um mês, os
tratando bem todos os dias, resolvi levantar a toalha pra ver o resultado.
Vocês não vão acreditar! Dentro da água havia uma porção de peixinhos
nadando!”.
A turma caiu na gargalhada: “kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk”.
E o GURUÇÁ meio sem graça, comentou: “Por isso que eu não queria
contar, sabia que vocês não acreditariam em mim! Mas vamos fazer algo melhor
agora. Vamos comer esta jaca que BAIACU trouxe pra gente!”. A
turma, então, comeu a jaca toda.
Depois disso, BAIACU falou: “Vou
lhes contar sobre esta jaca, que vocês acabaram de comer. Eu tinha um cachorro
muito bravo, no quintal de minha casa. O bicho era tão bravo, mas tão bravo que
ninguém entrava lá. Mas o pior aconteceu. o danado ficou tão doido, que nem eu
conseguia pegá-lo. Então, eu tive uma ideia. Fui chamar meu vizinho, que é
boiadeiro e bom de laço, para pegar o cachorro doido. Assim procedi. Fui até ao
meu vizinho e ele, com a maior boa vontade, aceitou meu pedido”.
“Meu vizinho, então, laçou o meu cão e,
assim, o amarramos em um tronco de abacateiro. Mas o bicho estava tão feroz,
que de tanta raiva mordeu o tronco do abacateiro. Vocês conseguem imaginar uma
dentada dessas? De tão raivoso, os dentes do cão ficaram agarrados ao tronco do
abacateiro, e de fúria meu cão morreu. Já faz um ano que isso aconteceu. Agora
vocês não vão acreditar mesmo. O abacateiro também ficou doido! Ao invés de
abacate, o abacateiro passou a produzir jacas. E esta que eu trouxe para vocês é
uma delas!”.
Após ouvir o caso de BAIACU a
turma caiu na gargalhada e um deles exclamou: “Acho que essa jaca vai
fazer a gente ficar doido também! kkkkkkkkk”. BAIACU, então, virou para o
pescador cantor e falou: ”Você está tão quieto, cantor. Você está passando
mal por comer a jaca doida? Conte-nos alguma coisa!”. O cantor o
respondeu: “Estou quieto porque eu estou preocupado com o que aconteceu
hoje comigo”.
E ai, falaram: “Não fique assim, cara. Fala pra gente o que esta te preocupando”. Então, o cantor começou a contar: “Hoje cedo, eu fui pescar e lá pras tantas, eu comecei a cantar. E ai, apareceu um lindo rabo de um peixe do lado de meu barco. Cada vez que eu parava de cantar, o peixe sumia. E quando eu voltava a cantar o rabo aparecia de novo. Até que parei de vez de cantar e o peixe também sumiu”.
E ai, falaram: “Não fique assim, cara. Fala pra gente o que esta te preocupando”. Então, o cantor começou a contar: “Hoje cedo, eu fui pescar e lá pras tantas, eu comecei a cantar. E ai, apareceu um lindo rabo de um peixe do lado de meu barco. Cada vez que eu parava de cantar, o peixe sumia. E quando eu voltava a cantar o rabo aparecia de novo. Até que parei de vez de cantar e o peixe também sumiu”.
Ao contar esta passagem
acontecida, um senhorzinho velho gritou lá de trás: “Seu moço, seu
moço, isso ta mais pra sereia do que peixe. Seu canto a seduziu. Ela deve ter
se apaixonado por você. As sereias adoram seduzir os pescadores com seus cantos
hipnotizantes. Mas desta vez o senhor que a hipnotizou com seu canto.
Provavelmente ela deve estar querendo te pegar. Assim como fazem as mulheres,
quando querem nos atrair. Elas mostram colocam suas penas bonitas de fora e se arrumam todas. Já a sereia, por não ter pernas, mostra sua cauda para o pescador”.
O cantor falou: “Vocês estão
ficando doidos mesmo. Depois dessa eu vou pra casa”. E
descontraído, ele saiu de lá rindo.
P.S: Além de escritor, sou também
pescador. E na próxima historia, vou contar um relato que aconteceu comigo.
Dizem que histórias de pescador são mentiras. Mas garanto que a minha é
verídica.
AUTORIA: Mario Garcia Aguiar
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